Se você acha que o mercado de trabalho anda
cada vez mais parecido com uma selva, não é impressão sua. Acirrada pela crise econômica, a
disputa por vagas, promoções e aumentos está mais agressiva do que nunca.
A competição profissional
seria um jogo saudável, e não uma luta perigosa, se não fosse por um equívoco
bastante comum: a ideia de que é preciso superar a concorrência para garantir o
seu lugar ao sol.
Segundo
o autor e palestrante Eugênio Mussak, professor da Integração Escola de
Negócios e da FIA (Fundação Instituto de Administração), a competitividade
exigida para ter sucesso na
carreira envolve, sim, superação — desde que o parâmetro de comparação seja
você mesmo, e não os demais.
Para
ele, um profissional que tenta sempre ser melhor do que os outros será um
eterno frustrado. Para evitar esse destino, é preciso compreender que o
verdadeiro obstáculo a ser transposto não são os seus concorrentes, mas os seus
próprios limites.
Autor
de 12 livros e educador há 40 anos, Mussak concedeu uma entrevista exclusiva a EXAME.com,
na qual explica por que o conceito de competitividade merece ser revisto e
atualizado. Confira a seguir os principais trechos da conversa:
EXAME.com
- O que significa ser competitivo?
Eugênio
Mussak - Como
sou médico de formação, gosto de pensar em analogias com a biologia, que é um
campo que fala muito sobre competitividade. No século 19, Charles Darwin
mostrou que somos o resultado de um longo e lento processo de evolução, em que
sobrevivem os indivíduos mais aptos. Mas o que é aptidão?
No
reino animal, é a capacidade de extrair do meio ambiente as condições para a
sua sobrevivência. Haverá sempre pelo menos duas espécies disputando o mesmo
alimento. A mais apta das duas, isto é, aquela que tiver a melhor condição para
obter esse alimento, terá sucesso. A outra espécie, menos apta, será
prejudicada e poderá até ser extinta.
Segundo
o princípio da seleção natural, nenhuma espécie desaparece porque outras
espécies acabaram com ela: o animal extinto acabou consigo mesmo, a partir do
momento em que perdeu a capacidade de competir.
É
impressionante como essa teoria é totalmente aplicável ao mundo corporativo. A
empresa é um "ser vivo" inserido num "ecossistema" chamado
mercado. O “alimento” pelo qual ela compete é o lucro. Se vai à falência, não
foi porque outra companhia acabou com ela. O negócio se acabou sozinho, seja
por equívocos de gestão, seja pelo descompasso com as mudanças do ambiente.
EXAME.com
- Como esse raciocínio se aplica à carreira?
Eugênio
Mussak - Nós,
profissionais, precisamos ser competitivos ao lutar por um emprego, por uma
promoção. É preciso estar em permanente estado de evolução. Isso é verdade pelo
simples fato de que o seu concorrente, seja outra empresa ou outro
profissional, está sempre evoluindo. Ninguém fica igual: ou você melhora, ou
você piora.
Imagine
que você pense algo como: “Neste ano que passou, eu não melhorei, porque não
fiz nenhum curso nem busquei novas competências, mas também não piorei, porque
continuo como no início do ano”. Lamento dizer, mas você piorou sim. Você
sempre será comparado com a média, e o padrão de comparação está sempre
aumentando. Se você não melhora, perde competitividade.
EXAME.com
- É preciso ser sempre melhor do que o outro?
Eugênio
Mussak - Na
verdade, você tem que ser sempre melhor do que você mesmo. Se tentar ser melhor
que o outro, você buscará se desenvolver de uma maneira que não é a sua, e não
vai funcionar. Além disso, para ser melhor que o outro, primeiro você precisará
ser igual ao outro. E você nunca será igual ao outro. Você só é igual a você
mesmo.
Por
isso, um profissional só se torna competitivo se for capaz de desafiar a si
mesmo continuamente. Seu foco e suas energias são direcionados para superar a
si mesmo, e não seus concorrentes.
EXAME.com
- Ainda assim, é preciso estar sempre atento ao que se passa lá fora.
Eugênio
Mussak - Sem
dúvida. O primeiro passo para desenvolver a sua inteligência competitiva é
perceber o ambiente, isto é, enxergar o que está acontecendo ao seu redor. Você
não pode estar muito voltado para dentro de si mesmo, precisa ler o ecossistema
em que está inserido, captar a chegada de novas tecnologias, novos players,
novos métodos de trabalho.
Em
seguida vem a compreensão, isto é, a capacidade de entender as próximas
tendências e possibilidades, e depois o aprendizado, que é incorporar novos
conhecimentos, trazer todos esses recursos para dentro. O último passo é a
adaptação, ou seja, a capacidade de manter a sua aptidão apesar das
mudanças.
EXAME.com:
Existem alternativas de carreira para quem não gosta de competir?
Eugênio
Mussak - Todo
profissional precisará competir. Muita gente pensa que há algumas carreiras
mais competitivas, como vendas, e outras menos, como contabilidade. Não
funciona assim. No caso do comercial, é mais evidente, porque é como se o
vendedor estivesse na savana lutando pela presa, que é o cliente. Mas hoje não
há profissional que não precise lutar pelo seu espaço. Contabilidade parece uma
área rígida e previsível, mas o contador que não inova está fora do mercado.
Todos
nós precisamos estar em constante estado de evolução, seja para lutar por um
cliente, seja para lutar pelo nossa permanência na empresa. Atualmente, as
mudanças ocorrem com uma velocidade muito grande. No passado, você podia sair
da faculdade e ir trabalhar, só de vez em quando aparecia uma novidade no seu
campo. Hoje, você já sai da escola e precisa fazer outro curso, participar de
congressos, assinar revistas científicas. Hoje as mudanças ambientais são
cotidianas.
EXAME.com
- O que define uma competição saudável?
Eugênio
Mussak - A
competição só será saudável se for pautada pela ética, isto é, se você luta
para melhorar os seus resultados, não para piorar os dos outros. Competir de
forma desleal não funciona por dois motivos.
Primeiro,
porque é uma questão de tempo para que a sua desonestidade seja desmascarada.
Ninguém consegue ser o que não é. Em segundo lugar, porque não há mérito. Qual
é a graça de ganhar um cargo se você precisou atropelar os outros para
obtê-lo? Há um poema samurai, muito bonito, que diz algo como: “Eu quero o
meu oponente na sua melhor forma”.
Os
Jogos Olímpicos do Rio trouxeram muitos exemplos reais nesse sentido. Um deles
foi vivido por duas atletas na prova de 5 mil metros. Uma corredora
norte-americana e uma neozelandesa colidiram
e caíram no chão. Uma delas conseguiu se reerguer rapidamente, mas a outra
continuou imóvel, com dor. Em vez de voltar a correr para garantir sua medalha,
a atleta que estava bem ajudou a ferida a se levantar, e foram juntas até a
linha de chegada. Há muito mais mérito nessa atitude do que em ganhar a
corrida.
EXAME.com
- Na carreira, o espírito esportivo também deve prevalecer? O importante não é
ganhar, e sim competir?
Eugênio
Mussak - Aí é
que está: o que é espírito esportivo? O primeiro que falou sobre isso foi o
Barão de Coubertin, quando promoveu a primeira Olimpíada da era moderna em
1896. Naquela ocasião, a definição de espírito esportivo era esta: que o
importante não é ganhar, mas sim competir.
Com o
tempo, isso foi bastante relativizado. Hoje, o importante é ganhar sim, mas
precisamos entender o que é ganhar. Às vezes, ganhar não é ganhar medalha. É
conseguir superar a si mesmo. Vimos atletas que não ganharam a Olimpíada, mas
saíram felizes da vida porque conseguiram bater seus próprios recordes.
No
mundo do trabalho, é preciso aplicar esse mesmo princípio: competir consigo
mesmo. É impressionante ver como há gente que arruma um emprego e se acomoda, para
de estudar, não quer mais evoluir, acha que já está bom. Hoje, acomodação é
pecado mortal em qualquer lugar, seja na iniciativa privada, seja na carreira
pública.
A
diferença entre evolução humana e dos outros animais é que a evolução dos
bichos depende totalmente do acaso da recombinação genética. No nosso caso,
não, ela depende da nossa consciência, da nossa percepção. É algo intencional.
É por essa razão que falamos eminteligência competitiva.
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